sábado, 23 de março de 2024

A Espiritualidade e o Sentido da Vida

A busca pelo sentido da vida é uma questão filosófica que tem intrigado os pensadores ao longo da história. Na atualidade, a espiritualidade se apresenta como um caminho de autoconhecimento e transformação interior que permite ao ser humano transcender a sua natureza limitada e encontrar um sentido mais profundo na vida.

No entanto, a espiritualidade enfrenta desafios significativos. O mundo moderno é marcado pela fragmentação, pela superficialidade e pelo individualismo. Muitas pessoas vivem em um estado de desconexão, sentindo-se isoladas e desorientadas em relação ao mundo e a si mesmas. Nesse contexto, a espiritualidade pode ser vista como uma forma de reconectar com algo maior e de encontrar um propósito mais elevado na vida.

Um dos grandes pensadores que refletiu sobre o sentido da vida foi o psiquiatra austríaco Viktor Frankl. Ele afirmou que "O sentido da vida é encontrar o seu propósito. O homem deve ter uma razão para viver e um propósito a realizar". Essa afirmação de Frankl é muito relevante para a espiritualidade na atualidade, que busca encontrar um sentido mais profundo na vida e um propósito maior para a existência.

Mas como podemos buscar a espiritualidade em um mundo tão frenético e individualista? 
Uma das tendências para o futuro é a busca por práticas espirituais que possam ser realizadas no cotidiano, de forma simples e acessível. A meditação, por exemplo, é uma prática que vem ganhando espaço e pode ser realizada em poucos minutos por dia, em qualquer lugar. Além disso, a procura por valores como a empatia, a compaixão e a solidariedade, pode ser vista como uma forma de cultivar a espiritualidade no cotidiano.

Outra tendência é a busca por uma espiritualidade inclusiva, que respeite as diferentes tradições espirituais e as diferentes formas de buscar o sentido da vida. Essa abordagem inclusiva e aberta pode ser uma forma de encontrar um senso de unidade e de propósito comum, em um mundo cada vez mais complexo e interconectado.

Além disso, a espiritualidade pode ser vista como uma forma de enfrentar os desafios éticos e morais que enfrentamos hoje. O mundo moderno é marcado pela complexidade e pelas contradições, com avanços tecnológicos que trazem benefícios inegáveis, mas também desafios éticos e morais. A espiritualidade pode ser uma fonte de orientação nesse contexto, ajudando as pessoas a tomar decisões mais éticas e a construir uma sociedade mais justa e equilibrada.

No entanto, para que a espiritualidade possa desempenhar esse papel, é preciso que ela esteja presente na vida cotidiana das pessoas e que seja acessível a todos. Isso significa que deve ser vista como algo que pode ser vivenciado em qualquer contexto, e não apenas em momentos de culto ou de prática religiosa, deve ser vista como algo que pode ser conseguido por pessoas de diferentes origens e culturas, sem discriminação ou exclusão.

Sinto que a espiritualidade tem um papel fundamental na atualidade, ajudando as pessoas a encontrar um sentido mais profundo na vida e a enfrentar os desafios éticos e morais do mundo moderno. Para que a espiritualidade possa cumprir esse papel, é preciso que ela seja inclusiva, aberta e acessível a todos, e que esteja presente na vida cotidiana das pessoas. 

Como afirmou Viktor Frankl, o sentido da vida é encontrar o seu propósito, e a espiritualidade pode ser um caminho para alcançar esse objetivo.
É importante que cultivemos a espiritualidade em nossas vidas, buscando práticas que nos possam ajudar a reconectar com algo maior e a encontrar um propósito mais elevado. A meditação, a reflexão e a busca por valores como a empatia e a solidariedade podem ser formas de cultivar a espiritualidade no cotidiano. Além disso, é importante que sejamos críticos e reflexivos em relação aos valores e práticas que não contribuem para a construção de um mundo mais justo e equilibrado.

A busca pela espiritualidade não deve ser vista como algo que nos afasta do mundo, mas sim como uma forma de nos conectarmos com ele de forma mais profunda e significativa. Pode ser uma fonte de esperança e de inspiração em um mundo que muitas vezes parece caótico e sem sentido. Ela nos pode ajudar a encontrar um propósito mais elevado na vida e a construir um mundo mais justo e equilibrado para todos.

Portanto, procuremos práticas e valores que nos permitam encontrar um sentido mais profundo na vida e contribuir para a construção de um mundo melhor. Citando mais uma vez Viktor Frankl, "O que dá sentido à vida é a responsabilidade. Em cada situação, temos uma responsabilidade a cumprir, seja para com nós mesmos, seja para com o mundo". Que possamos assumir essa responsabilidade e buscar a espiritualidade como um caminho para encontrar o nosso propósito e contribuir para um mundo mais justo e equilibrado.

Autor: Viktor Frankl

sábado, 17 de fevereiro de 2024

A Tolerência vs a Liberdade vs o Status Quo

O tema da tolerância tem sido um tema central na nossa sociedade, embora nem sempre pelas razões certas, pois parece que o que se procura é, mais do que obter realmente uma aceitação das diferenças ou do direito à diferença, uma imposição administrativa dessas diferenças ou desses “direitos”.

Vale a pena começar por perceber qual é, em língua portuguesa, o significado, ou significados, da palavra Tolerância. Retirando então os diversos significados relacionados com a Medicina ou a Engenharia, temos então que a Tolerância pode ser:

- ato de admitir sem reação agressiva ou defensiva;

- atitude que consiste em deixar aos outros a liberdade de exprimirem opiniões divergentes e de atuarem em conformidade com tais opiniões; aceitação.

Ora esta última definição faz menção a um outro direito que, sem dúvida, está intimamente ligado à Tolerância, que é a Liberdade. Achei, por isso, que seria igualmente interessante olhar para a definição de liberdade, neste contexto, tendo selecionado os seguintes significados:

direito que qualquer cidadão tem de agir sem coerção ou impedimento, segundo a sua vontade, desde que dentro dos limites da lei;

- capacidade própria do ser humano de escolher de forma autónoma, segundo motivos definidos pela sua consciência; ou ainda,

- garantia que todos os cidadãos têm de não serem impedidos do exercício dos seus direitos, exceto nos casos determinados pela lei.

E é aqui que as coisas se tornam mais complicadas, pois se por um lado qualquer pessoa tem o direito e a liberdade de manifestar a sua forma diferente de estar perante os outros e perante a sociedade, não é menos verdade que quem fica perante essa manifestação de diferença pode igualmente ver a sua liberdade invadida e diminuída se essa manifestação de diferença de alguma forma o perturbar.

Dando exemplos concretos. Se eu me sentir impressionado por ver alguém profusamente coberto de piercings no rosto e com um alfinete de ama de grandes dimensões espetado na bochecha, vou ter uma atitude de afastamento e de eventual repulsa perante essa pessoa, porque fico impressionado, arrepiado, o que lhe quiserem chamar. E agora? Estou a ser intolerante perante uma pessoa que gosta de marcar a diferença mutilando-se, ou tenho a liberdade de me sentir incomodado e impressionado com isso, podendo chegar a manifestar-lhe esse sentimento? É que se o fizer essa pessoa vai dizer que sou intolerante, entre outras coisas.

Um outro exemplo diferente que aconteceu realmente comigo: há uns anos atrás estava à espera de ser atendido numa loja do cidadão quando vejo um indivíduo entrar com uma t-shirt que tinha escrito “Jesus is a cunt”. É claro que me senti profundamente incomodado com aquela frase e interpelei o indivíduo em causa. Onde se aplica a tolerância aqui?

A questão crucial é: teremos nós de aceitar todas as diferenças e afirmações que cada um quiser assumir (de aspeto, de sexualidade, de vestimenta, de abuso de substâncias) só porque a sociedade nos obriga a ser tolerantes em nome do direito à diversidade? E o meu direito pessoal a querer ser diferente dessas pessoas? Não estaremos cada vez mais a caminho de uma ditadura das minorias, em que os governos decretam leis sem o mínimo de lógica, só para que esses grupos, normalmente barulhentos e persistentes na contestação, deixem de se manifestar e não causem perturbação na sociedade?

Mas vamos um pouco mais além e vejamos onde chega esse impingimento da diferença e, para muitos, do mau gosto e do ridículo. Vamos falar um pouco de Cultura.

Durante séculos vários artistas enriqueceram a sociedade ocidental com os seu trabalhos de beleza surpreendente, como a Mona Lisa de da Vinci, a Pietá de Michelangelo, a Ronda Noturna de Rembrandt, o Pensador de Rodin, obras que nos inspiraram, elevaram e nos terão levado até a alguma introspeção. E isto porque estes e outros artistas procuraram os mais altos níveis de excelência, melhorando os ensinamentos dos seus mestres e aspirando à mais alta qualidade possível para os seus trabalhos. E o resultado disso é que ainda hoje, tantos séculos após, ainda nos deslumbramos com alguns desses trabalhos.

Mas ao longo do século XX algo aconteceu. O profundo, o inspirador e o belo foram substituídos pelo novo, o diferente e o feio. Hoje, o ridículo, o sem sentido e o puramente ofensivo é tido como o melhor da arte moderna. Lembro-me, por exemplo de uma exposição subordinada ao tema “O Cu é Lindo” que esteve em exposição há uns anos no Centro Cultural de Belém, só para dar um exemplo. Michelangelo esculpiu a sua estátua de David a partir de uma única pedra. Em contrapartida o Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles tem exposta uma pedra com 340 toneladas como sendo uma obra de arte. E não esqueçamos a Petra, do escultor alemão Marcel Walldorf que representa uma mulher polícia de choque agachada a urinar, com direito a poça de urina e tudo, que ganhou um prémio da Academia de Belas artes de Dresden em 2011. Estes são alguns exemplos de como os nossos padrões de exigência e qualidade baixaram. Mas como é que isto aconteceu? Como é que a busca milenar da perfeição artística e da excelência se perdeu?

Na verdade foi forçada a desaparecer. No final do século XIX um grupo denominado de Impressionistas rebelou-se contra a Academia Francesa de Belas Artes, que seguia os padrões clássicos. Qualquer que fosse a sua intenção, estes novos modernistas lançaram as sementes do relativismo estético: “A beleza está nos olhos de quem vê”. De acordo com esta corrente, na pintura as cores e tonalidades não devem ser obtidas pela mistura das tintas na paleta do pintor. É o observador que, ao admirar a pintura, combina as várias cores, obtendo o resultado final. A mistura deixa, portanto, de ser técnica para ser óptica. Na escultura a obra inacabada é o exemplo ideal do processo criativo do artista. Ora se alguns dos primeiros seguidores do impressionismo produziram trabalhos de grande beleza, como Monet, Degas ou Renoir, a cada nova geração os padrões de qualidade foram baixando até deixarem de existir.

Tudo o que restou foi a arte reduzida à expressão pessoal. O historiador de arte Jakob Rosenberg disse uma vez que “A qualidade na arte não é meramente uma questão de opinião pessoal, mas em grande parte analisável objetivamente”. Eu estou de acordo. Mas a ideia de um padrão universal na arte é atualmente muito contestado, quando não ridicularizada abertamente. Mas sem padrões estéticos não é possível determinar a qualidade ou a inferioridade.

Muitos dos artistas da atualidade apenas usam a sua “arte” para fazer declarações, frequentemente sem qualquer outra intenção a não ser chocar. Os artistas da antiguidade também faziam afirmações através do seus trabalhos, mas nunca à custa da excelência visual do seu trabalho. Mas não são os artistas os culpados por este estado de coisas. A culpa é sobretudo da chamada “Comunidade Artística”: os curadores de museus, proprietários de galerias e os críticos, que encorajam e financiam a criação deste lixo artístico. São eles os “reis nus” da arte, pois quem mais gastaria 10 milhões de dólares numa pedra de 340 toneladas e lhe chamaria arte?

E é aqui que voltamos de novo ao tema da tolerância. Porque é que temos de ser vítimas de todo este mau gosto? Não temos! Ao não frequentar estas exposições, ao não comprar ou promover estas obras estamos a expressar a nossa opinião, pois uma galeria de arte é um negócio como qualquer outro e a continuidade de um museu também assenta nas receitas que obtém dos seus visitantes. Se o produto não vender deixa de ser produzido. E também podemos fazer pressão para que as escolas ensinem padrões de qualidade visual que se perderam por terem sido abafados por este nova vaga de modernismo. No entanto esta minoria da “Comunidade Artística” tenta condicionar-nos e obrigar-nos a mudar os nossos gostos e os nossos padrões estéticos ao ponto de cairmos no ridículo por não apreciarmos uma peça de arte contemporânea que esteja na berra. Mais uma vez uma minoria está a condicionar a liberdade dos demais.

Mas não deixo de concordar que o Status Quo, ou o Establishment, podem também eles ser nefastos para a nossa perceção do que é certo, aceitável e defensável, versus o que devemos evitar ou condenar. E num vídeo recentemente partilhado no nosso grupo de whatsapp, retirado de um episódio de uma série da RTP, pude ver isso bastante bem explicado e demonstrado de uma forma inequívoca. Para quem não se lembre, a cena passava-se numa escola e o professor falava de três candidatos a uma eleição, perguntando aos alunos quem escolheriam:

- o primeiro candidato está parcialmente paralisado com poliomielite, tem hipertensão, anemia e uma série de outras doenças graves. Mas segue a sua ideologia e consulta astrólogos sobre a sua política. Engana a mulher, fuma muito e bebe demasiados martinis;

- o segundo tem peso a mais, já perdeu três eleições, sofre de depressão, teve dois enfartes, é irascível e fuma charutos sem parar. À noite quando regressa a casa bebe grandes quantidades de champanhe, conhaque, Porto e whisky, e toma dois comprimidos para dormir;

 - o terceiro é um herói de guerra muito condecorado, trata as mulheres com respeito, gosta de animais, nunca fumou e bebe uma cerveja em raras ocasiões.

Obviamente que todos os alunos votavam no terceiro candidato, não sabendo eles que estariam a rejeitar Franklin D. Roosevelt (o primeiro candidato) e Winston Churchill (o segundo), ambos estadistas marcantes, estando a colocar o seu voto em Hitler.

Sabemos que o mundo nunca é como esperamos, mas isso é algo que temos de aceitar. A veleidade que os humanos têm de que podem mudar o mundo não passa disso mesmo, uma boa intenção utópica, especialmente se a nossa forma de o fazer é chocando os outros e obrigando-os a aceitar tudo o que fazemos, pois estamos eventualmente a tirar-lhes também a sua liberdade de serem como são. Há uma frase feita que diz “Todos Iguais, Todos Diferentes”, mas o facto de sermos diferentes não implica que tentemos impor aos outros essas diferenças, que tentemos quebrar regras, em nome de uma suposta liberdade pessoal que todos devem ser obrigados a respeitar.

A ausência de luz produz as trevas, a ausência de calor causará o frio, sem o bem instalar-se-á o mal, sem amor grassará o ódio e sem regras passaremos a viver o caos.

Autor: António Egas Moniz

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Fio de Prumo

Em mais este passo de caminhada para o Conhecimento, a tarefa que me foi atribuída foi a de vos trazer uma prancha sobre um dos Símbolos da Nossa Ordem.

A simbologia é de importância fundamental, estando presente em todos os rituais e objectos usados. Eles contêm um significado próprio e não imediato, que os torna representações de conceitos mais profundos e ricos. O estudo dos nossos símbolos é assim primordial para aceder aos conhecimentos ancestrais em que se assenta a Nossa Ordem e que nos guiam na caminhada em que procuramos rectificar a Pedra Bruta de que somos constituídos na almejada Pedra Cúbica.  

Devo dizer que a escolha foi imediata: o Fio de Prumo.

Razão: porque, ainda sem mais pesquisa nem entendimento simbólico, associava este símbolo ao conceito de verticalidade de carácter, que pretendo ser característica da minha forma de estar.

Dito isto, falhei redondamente nesta tarefa.

Com efeito, ao buscar mais conhecimento sobre este Símbolo e seus significados, percebi que não só ele só pode ser entendido na plenitude quando associado ao Nível, como, olhando mais atentamente, percebemos que ele é um elemento do próprio Nível, já que este Símbolo é composto de um Fio de Prumo e um Esquadro.

Assim, optei por alargar o traçado desta prancha, alcançando a descrição e o meu entendimento sobre cada um deles e o seu efeito combinado. Reconhecendo que qualquer deles são símbolos de um Grau que ainda não atingi, assumo que está limitada a minha capacidade para aceder à plenitude do entendimento sobre os mesmos, mas permitam-me que, não obstante estes constrangimentos, me lance a esta obra, a qual irei maturar e evoluir à medida que aceda a mais e melhor conhecimento sobre cada um destes símbolos.

Começando então com o Fio de Prumo, é provavelmente o mais singelo dos instrumentos de um Maçon. Bastará atar um qualquer objecto pesado que sirva de pêndulo na ponta de um cordel e a força da gravidade tratará de nos garantir a preciosa indicação da vertical, fundamental à construção de um edifício sólido. Menos óbvio, mas igualmente importante é o facto de o Fio de Prumo nos dar a projecção de um ponto do edifício ao plano horizontal, também isso fundamental para garantir um edifício justo e perfeito (referes-te ao Nosso plano interior?).

Do ponto de vista simbólico este símbolo da joia que adorna o 2º Vigilante representa a profundidade do conhecimento e sua verticalidade, bem como a relação como o Alto, nessa ligação entre a profundeza de onde emana a força gravítica, até à vastidão da Abóboda Celeste (conforme encontramos em A Simbólica Maçónica - Jules Boucher). É com a orientação do Fio de Prumo que poderemos descer à profundeza do nosso interior para nos descobrirmos, onde devemos buscar o aperfeiçoamento, para de seguida poder subir aos altos graus de conhecimento e espiritualidade.

Existe também uma conotação com verticalidade de carácter que se espera de um Maçon que, como disse atrás, foi a razão inicial para a escolha deste símbolo para esta prancha.

Olhando agora ao Nível, ele é constituído por algo que permita assentar em dois pontos de uma recta, com um fio de prumo a mostrar que ambos estão nivelados quando o mesmo encontra na em ângulo recto com a linha definida pelos pontos onde o nível está assente. 

Esta configuração permite aferir a horizontalidade dos pontos em que está assente, sendo de fundamental importância para o correcto alinhamento das superfícies durante a sua construção.

A representação varia consoante a bibliografia, mas a que considero mais rica do ponto de vista simbólico é a que se faz através da conjugação do Esquadro de braços iguais e do Fio de Prumo. É, de resto, essa que podemos encontrar, por exemplo, na escadaria do nosso Palácio Maçónico ou na joia que adorna o 1º Vigilante. 

Do ponto de vista simbólico, ele representa a Igualdade, não do que somos, pois existe sempre o espaço à individualidade, mas dos direitos e responsabilidades que temos enquanto seres humanos e Maçons (Plantageneta citado por Jules Boucher em A Simbólica Maçónica).

É para mim interessante que seja este o símbolo da joia que adorna o 1º Vigilante. 

Existe uma corrente, expressa pelo autor já citado, que defende que, pelo facto de conter ele próprio um Fio de Prumo, o Nível é um instrumento mais completo, logo mais adequado a adornar o único em Loja que pode substituir o V∴ M∴ na ausência deste.  

Ainda que sem ter encontrado referências, depreendo que, por ser uma combinação das joias que adornam 2º Vigilante (o Fio de Prumo) e o Venerável (Esquadro), ele representa a síntese une as três principais luzes da Loja  num contínuo.  

Interrogo-me também se a escolha do símbolo da igualdade não estará ligada ao exemplo a passar aos Companheiros que o 1º Vigilante acompanha, os quais, estando a avançar no seu caminho de conhecimento, não podem deixar de vista a humildade de lembrar que, na base somos todos iguais e todos os Homens merecem o mesmo respeito, independentemente do caminho que seguem e das oportunidades que têm.

Analisados que estão estes dois símbolos individualmente, queria olhar para eles de forma combinada. 

A vertical e horizontal, associadas a cada um destes símbolos, são exemplos das polaridades universais que, sendo opostas, interagem entre si e se complementam. 

Assim acontece com os símbolos que as representam; juntando os dois, vemos que é formada uma Cruz, a qual carrega todo um simbolismo que irá para além daquilo que me proponho traçar nesta prancha. É no entanto um símbolo que transmite a noção de equilíbrio, conjugando os conceitos de igualdade e verticalidade num todo que representa o Homem.

Tratando-se dos Símbolos que adornam ambos os Vigilantes, principais auxiliares do Venerável na condução da Loja, a correlação de ambos é também expectável. Ambos trabalham em conjunto pelas mesmas causas olhando por colunas ortogonais entre si, e assim complementando-se, um representado pelo Vertical (Activo) e outro pelo horizontal (Passivo), também aqui com a representação das polaridades opostas. 

Por fim, e uma vez que o Esquadro aparece como elemento constitutivo do Nível, quero debruçar esta análise sobre este símbolo que adorna o Venerável Mestre, completando assim a tríade que dirige os trabalhos da Loja. 

Composto por dois segmentos de recta formando um ângulo de 90º, o Esquadro é, segundo Ragon, o instrumento que permite tornar os corpos quadrados. 

Ele representa Matéria (daí ser um símbolo passivo) e a acção do Homem sobre a mesma para a rectificar, com um directo paralelo para a acção do Homem sobre si mesmo com o objectivo de caminhar no sentido de se tornar justo e perfeito.

Esta joia é a que adorna o Venerável Mestre, pois representa a missão deste ajudar os maçons da loja na busca da melhoria no caminho nunca alcançado da perfeição, pelo que é necessário a rectidão providenciada pelo Esquadro para permitir desbastar a Pedra Bruta para a transformar em Pedra Cúbica. 

Nesta joia os braços do esquadro não são iguais, antes têm uma relação de três por quatro, que alude directamente ao Triângulo Pitagórico, ficando o lado mais comprido para o lado direito para simbolizar a predominância do activo (lado direito) sobre o passivo (lado esquerdo).

É igualmente interessante observar que com dois esquadros podemos formar uma Cruz ou um Quadrado, mas estes são temas que, como atrás mencionado, não irei aprofundar nesta prancha

Certo de que não terei trazido nada de fundamentalmente novo, ficarei satisfeito se este traçado tiver servido para reavivar nos Vossos espíritos a riqueza deste símbolos.  É com a utilização combinada deles que se consegue erguer um templo mais alto, belo e sólido, capaz de enfrentar os abalos do mundo exterior. E se assim é na representação do que é a nossa Loja, também o é, necessariamente, no nosso Templo Interior. 

Autor: Damião de Goes